Não é de hoje que o cinema se interessa por histórias sobre a memória e que retratam o tempo de maneira fragmentada e não-linear. Narrativas sobre amor, então, são clássicas no repertório cinematográfico. Mas tem crescido, nos últimos anos (o recorde talvez tenha sido 2004), uma tendência a fazer filmes que misturam essas duas características, o amor e a memória. Alguns exemplos dessa realidade são os filmes “Como se fosse a primeira vez” (2004), “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (2004), “Diário de Uma Paixão” (2004) e “O Curioso caso de Benjamin Button” (2008).
“Como se fosse a primeira vez”, apesar de sua divertida trama e da bela mensagem de amor que supera as dificuldades, é o filme mais simples de todos eles. Com direção de Peter Segal, e com os atores Adam Sandler e Drew Barrymore em boas atuações na pele dos protagonistas Henry e Lucy, o filme não ultrapassa o limite de uma boa comédia romântica. De qualquer forma, vale à pena assistir.
A obra aborda o problema da falta de memória de curto prazo, vivido por Lucy, que todos os dias se apaixona por Henry, mas no dia seguinte ao acordar esquece que ele existe. Esse, cada dia mais apaixonado, tenta reconquistá-la de várias e divertidas formas, provando a força de seu amor não só para Lucy, como para o irmão e o pai da jovem, que inicialmente não acreditavam que o romance poderia dar certo.
Seguindo nessa mesma linha romântica, sempre com o lema de amor que supera as dificuldades, vem o filme “Diário de uma Paixão”. A história acontece em dois planos, presente e passado. No presente, a narrativa se passa em uma clínica geriátrica, onde um dos internos do local (Noah) lê para outra interna (Allie), em estado grave. Ela tem a memória confusa e não percebe que, na realidade, a história contada é a deles mesmo, que se apaixonaram quando jovens e tiveram que enfrentar a família e os preconceitos sociais para ficarem juntos.
Trata-se de uma narrativa emocionante pois, apesar de toda a dificuldade para fazê-la lembrar de sua própria vida, Noah insiste em ler aquele livro, aguardando ansioso por qualquer resquício de lembrança de sua amada Allie, que sequer consegue reconhecer os próprios filhos e netos quando vão visitá-la.
Em 2008, recuperando essa tendência, foi lançado o filme “O Curioso caso de Benjamin Button”, o mais surpreendente dos já abordados. Trata-se da história de Benjamin (Brad Pitt), um homem que nasce com um problema inacreditável: em vez de envelhecer com o passar dos anos, ele vem ao mundo como um bebê com saúde de idoso e, ao longo da vida, vai rejuvenescendo, até virar uma criança.
O amor por Daisy (Cate Blanchett) surge como algo quase impossível de se realizar, pois, apesar de suas idades mentais serem semelhantes, a aparência física dos dois por quase toda a história é completamente distinta (por exemplo, quando Daisy tinha aparência de uma criança de cerca de cinco anos, Benjamin tinha corpo e voz de um idoso). Apesar de todas essas diferenças e de uma história cheia de idas e vindas, os dois vivem intensamente esse amor e tem uma filha, mesmo sabendo que aquela paixão está fadada a terminar de forma triste.
Quanto mais Daisy envelhece, mais Benjamin fica jovem, até que começa a esquecer sua própria história e torna-se apenas um bebezinho indefeso nos braços de sua amada.
“O Curioso Caso”, além das características citadas, guarda em comum com “Diário de uma Paixão” o fato de ser narrado por meio de um livro diário, que é lido durante a história e ajuda a costurar os vários trechos da trama.
Mas, sem dúvida, o filme na linha amor-memória que mais leva o espectador a pensar é “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Com trama recortada e sem linearidade cronológica, a obra retrata a vida de Joel Barish (Jim Carrey), que tem um relacionamento complicado com sua namorada, Clementine Kruczynski (Kate Winslet). Depois de descobrir que ela se submeteu a um tratamento experimental para apagá-lo de sua memória, ele também resolve esquecê-la, mas, no momento em que suas memórias começam a ser apagadas, ele percebe que não quer isso e resolve guardá-la, de alguma forma, em seu cérebro. A partir daí, são muitos encontros e desencontros que acontecem com o casal, e existe sempre um clima de já se conhecem de algum lugar... Apesar de falta de lembranças, um brilho eterno daquele amor permanece nos dois, e um clima que mistura um pouco de sonho e de realidade, confundindo o espectador e levando-o a montar um complexo quebra-cabeça narrativo o tempo inteiro ao longo da trama.
Como podemos perceber, todos os filmes citados mantêm o binômio amor-memória como importantes elementos de suas construções narrativas. Vale ressaltar que, ao contrário de filmes hollywoodianos que insistem em repetir de forma pouco criativa uma mesma fórmula (a exemplo dos “Velocidades Máximas” da vida), todas essas obras são verdadeiras produções cinematográficas no conjunto narrativa-roteiro-direção-atores. Cada um com seu estilo, todos nos levam a caminhar por tramas fascinantes e, o principal, a sentir emoções que só verdadeiras obras de arte podem nos causar!
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