sábado, 10 de abril de 2010

Teatro brasileiro luta pela recuperação de sua história

O teatro brasileiro, um dos principais patrimônios da história cultural do país, vem lutando, por meio de diversas iniciativas, para preservar sua trajetória. Com a eclosão do cinema, televisão e novas mídias digitais, parte da atenção dada a essa antiga arte foi perdida. Mas, a cada dia, surgem novas companhias nacionais, que lutam para inovar e levar essa importante arte para todos os cantos do país. 

Teatro brasileiro começa ligado à religião e à catequese dos indígenas 

A peça ‘O Auto de Santiago’, do português Afonso Álvares, é considerada a primeira peça montada no Brasil. Antes dela, porém, os jesuítas já realizavam aqui encenações mais simples, com o objetivo de catequizar os índios, que encenavam as montagens. O padre José de Anchieta, missionário da Companhia de Jesus, foi o primeiro a escrever peças.

Segundo o ator e jornalista Fernando Peixoto, autor do livro ‘O que é teatro’, essa arte nasce ligada, entre outros fatores, ao culto religioso, ao desejo do homem de brincar de deuses. “Desde cedo os homens sentem a necessidade do jogo, e no espírito lúdico aparece a ânsia de ‘ser outro’, disfarçar-se e representar-se a si mesmo ou aos próprios deuses ou assumir o papel dos animais que procura caçar para sua sobrevivência”. No Brasil, temos então um cenário no qual a prática teatral nasce ligada à religião do colonizador, o catolicismo. 

Com o passar dos anos, o desenvolvimento do país beneficiou o teatro brasileiro, que foi crescendo gradativamente. Salvador, Rio de Janeiro e áreas de mineração, como Vila Rica e Cuiabá, passaram a contar com diversas montagens em festas populares, nas quais todos interpretavam: padres, freiras, índios, escravos alforriados, etc. Foram construídos, nesses locais, variados teatros líricos, com capacidade para cerca de 400 pessoas. 

Entretanto, nas montagens dessa época predominava o improviso e o amadorismo. Não havia sido constituída, de fato, uma linguagem teatral no país. A situação começou a mudar em 1808, com a vinda da família real para o Brasil. Dois anos depois da chegada, D. João VI baixou um decreto ordenando que no Rio de Janeiro, nova capital do Reino, fosse construído um teatro à altura da residência de sua família. Com isso surgiu, em 1813, o Real Teatro São João, o primeiro teatro de grande porte do Brasil. Após essa iniciativa, várias peças com melhor estrutura começaram a ser apresentadas.

Em 1831 João Caetano dos Santos, hoje considerado o primeiro ator profissional brasileiro, começou a se destacar, construindo uma carreira plena de grandes interpretações.

Teatro nacional experimenta novas linguagens 

O romantismo, movimento literário que tem como algumas de suas principais características o nacionalismo, encaixou-se perfeitamente com o clima do país após a Independência (1822). Assim, as primeiras peças profissionais do Brasil seguiram essa linguagem, sendo ‘Antônio José ou o Poeta da Inquisição’, escrita por Gonçalves de Magalhães e encenada pelo já reconhecido ator João Caetano, em 1838, considerada a pioneira no estilo. 

Seis meses depois da estréia de ‘ Antonio José’, estreou a primeira comédia do teatro brasileiro, ‘O Juiz de Paz da Roça’, de Luís Martins Afonso Pena, que inovou o estilo da época, trazendo o enfoque em personagens completamente brasileiros como uma das principais características. 

Entretanto, apesar dessas iniciativas pioneiras, o teatro brasileiro continuou enfrentando dificuldades, sendo em grande parte dominado por estrangeiros, sem desenvolver uma tradição própria. Prova disso foi a atitude de D. Pedro I que contratou, em 1829, uma tradicional companhia portuguesa, considerada a ‘melhor companhia de Lisboa’ para promover o ‘povoamento artístico do Brasil’.

Assim, o primeiro momento do teatro no Brasil, em resumo, é marcado por montagens ainda incipientes e pouco expressivas, porém de importância fundamental para o surgimento dessa arte no país, deixando solo fértil para o segundo momento desse desenvolvimento, o teatro com temas mais próximos da realidade, com as operetas e o teatro de revista. 

Obs: Essa matéria faz parte de uma série especial sobre as gerações do teatro brasileiro, englobando desde o surgimento até questões atuais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário